- Eixo 2: Aproximando o conceito de biografias -

A biografia corresponde ao gênero de texto que conta a história da vida de alguém, relatada e registrada enfatizando os principais fatos, podendo ser narrada em ordem cronológica, do nascimento à morte, ou por temas (amores, derrotas, traumas, etc.). É uma narrativa não ficcional associada ao jornalismo, à literatura e à história, que pode ser escrita, dramatizada, expressa em produções cinematográficas, etc.

Para Mary Del Priore (2009), as biografias na história, influenciada pelas novas abordagens e aquisições da história social e cultural, emergem trazendo para a discussão diferentes sujeitos de maneira individual e distinta. A biografia passa a abordar não mais um indivíduo isolado, mas a história de uma época, vista através de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos.

Sendo assim, a biografia possibilita, para o ensino de história, a valorização dos sujeitos no cotidiano, sem a pretensão de apresentar soluções, mas sim, de compreender períodos históricos a partir de um grupo de pessoas ou pela trajetória do indivíduo biografado. As biografias revelam sua inserção em contextos históricos, o que pode render análises de conjunturas, apresentando as possibilidades de se viver num mesmo tempo histórico de diversas maneiras.




Neste trabalho, a biografia se insere no contexto da  escrita de si, no âmbito da história cultural, que valoriza o indivíduo em contexto cultural, social e político. Considera a relação do indivíduo com seus documentos, assim como os mecanismos pessoais de dotar o mundo de significados, numa prática subjetiva, intencional ou não, que acaba por gerar processos identitários, individuais ou coletivos. Por meio desses tipos de práticas culturais, o indivíduo moderno cria uma identidade para si através de documentos, cujos sentidos se alargam no momento da atribuição de significados, da guarda de objetos, favorecendo a criação de identidades.

 Assim, levar para o ensino a escrita de si, auxiliaria as/os alunas/os a se perceberem como seres produzidos em uma determinada cultura. Isto pode provocar percepções de um pluralismo cultural capaz de desencadear empatia em relação à diversidade de seres e de culturas, incluindo assim o respeito às questões de gênero e aos papéis sociais nos quais as mulheres estão incluídas. 

Por despertar o sentido de construção de memórias individuais na guarda de objetos e documentos que perpassam o tempo, o exercício de escrita de si, assim como as análises biográficas, seriam maneiras de provocar significados subjetivos sobre as histórias, favorecendo deste modo a compreensão do sujeito inserido em múltiplos contextos. 


— Roteiro para elaboração de ESCRITA DE SI das alun@s ou entrevistas biográficas —

  • Nome e história do nome: quem escolheu e por quê;
  • Data e local de nascimento;
  • Como era, ou é, a família: número de irmãos, por quem foi criado, histórias que perpassam na família;
  • Em qual lugar passou a infância (descrever);
  • Características dos lugares que viveu: cidade, campo, relevo, clima e vegetação;
  • A arquitetura do lugar: material de que as casas eram construídas, se havia grandes edifícios e etc;
  • Se havia pavimentação e iluminação nas ruas;
  • Os meio de transporte disponíveis;
  • Educação: se há escolas no lugar que mora, se frequenta: qual, como se sentia naquele espaço, como é o trajeto até chegar lá, quais festas acontecem na comunidade escolar e etc;
  • Atividades econômicas: principal atividade econômica da população e da família, quais postos de serviço seus familiares ocupam e ect;
  • Condição de vida: da própria família e de outras famílias que conhece, comparação entre essas condições;

Nesse processo, @s alu@s devem valorizar aspectos cotidianos de suas vidas e perceber o que permanece, o que se alterou e o que deixou de existir no lugar em que vive e no conjunto de sua vida. 



A ESCRITA DE SI também pode ser explorada no ensino de história como objeto de pesquisa, por estar centrada nos indivíduos sob a perspectiva das memórias individuais e de grupos, de múltiplas temporalidades e ainda a partir da noção de verdade.


Neste caso, podemos desenvolver atividades em torno de conceitos da ESCRITA DE SI, tais como:

  • Registro de memórias individuais em escritos biográficos e autobiográficos, como a escrita de cartas e diários, ou a partir de fotografias e objetos do passado, entre outras formas de registro.
  • Construção de narrativas de vida expressas por meio de fotografias e objetos;
  • Escritas autobiográficas com fases da vida, momentos significativos, etc.
  • Construção de diários com escritas pessoais;
  • Trocas de cartas com temas como o sentido da vida, coisas que gosta ou não de fazer, problemas enfrentados, etc.
  • Entrevistas em duplas para elaborar a biografia da/o colega.

Nas atividades elencadas acima, podem ser explorados os sentidos de tempos e ritmos diversos, em múltiplas temporalidades, estando entre estas: o tempo da casa, da escola, tempo do trabalho, etc. Isto porque analisar um percurso de vida, que se altera ao longo do tempo, auxilia na percepção de diferentes ritmos e processos. A noção de verdade também pode ser problematizada, tanto do ponto de vista subjetivo como coletivo, por meio de análises entre pares de narrativas elaboradas, exercitando-se a interpretação e a percepção de que o fato histórico pode ter diferentes verdades, dependendo do indivíduo que está fazendo perguntas e interpretando o passado.

— Sugestão de processos metodológicos: uso de biografias no ensino de história —

Entre as possibilidades de escritas de si, o uso de biografias, enfocado neste trabalho, pode ser desenvolvido de diversas formas no ensino, entre as quais: 

a) elaborar biografias entrevistando e pesquisando sobre as vidas de pessoas com as quais as/os alunas/os convivem, tiveram contato ou têm curiosidade (familiares, amigas/os, personalidades); 

b) assistir a biografias cinematográficas, podendo transitar em diferentes tempos históricos nas biografias de personalidades, cantoras/es, artistas, etc.,  pois estas desencadeiam sensibilidade e emoções das/os alunas/os, que podem, posteriormente, fazer registros escritos, fotográficos, de modo a socializar entre a turma ou na escola os resultados obtidos por meio da análise da/o biografada/o.

c) Minha história: realizar um compilado de fontes históricas pessoais (fotografias, brinquedos, objetos significativos, e etc), para desencadear a subjetividade com momento da atribuição de significados, da guarda de objetos, favorecendo a criação de identidades e interpretação.    


Texto indicado para aprofundamento:

GOMES, Ângela de Castro. Escrita de si, escrita da história: a título de prólogo. In: GOMES, Ângela de Castro.  (Org.). Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: FGV, 2004. p. 7-26. 

Contato: vivianedmoreira@hotmail.com 
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